Com cores vibrantes e manchas simétricas, o percevejo usa sua aparência não apenas para encantar, mas também como um sinal de alerta na natureza

Parece um besouro, tem cara de besouro, mas, na verdade, é um percevejo. O Sphaerocoris annulus, conhecido popularmente como percevejo-picasso, impressiona com suas manchas circulares simétricas e seu verde vibrante, como se tivesse sido pintado à mão.
A família Scutelleridae, à qual o percevejo pertence, é amplamente distribuída no globo, possuindo em torno de 500 espécies, com cerca de 50 ocorrendo no Brasil. Apesar disso, o percevejo-picasso é somente encontrado em países da África tropical e subtropical, como Costa do Marfim, Camarões, Etiópia, Nigéria, Moçambique e Quênia.
“Juntamente com algumas outras famílias de Heteroptera (popularmente conhecidos como percevejos), podem ser confundidas por besouros (Coleoptera) pelo fato de apresentarem uma estrutura chamada escutelo, muito desenvolvida, que recobre as asas anteriores e posteriores. Essa estrutura bem desenvolvida lembra muito os élitros (asas anteriores) dos besouros”, explica o biólogo Luís Ricardo Schmitz.
Segundo ele, apesar dessa semelhança, os scutellerideos possuem muitas outras diferenças em relação aos coleópteros, como o aparelho bucal, ciclo de vida, entre outras estruturas morfológicas.

Pertencente ao mesmo grupo da famosa maria fedida, o encanto desse pequeno artista não está apenas nas cores, mas na inteligência por trás delas.
Essa “obra de arte” natural possui uma estratégia de sobrevivência engenhosa: sua coloração chamativa funciona como um aviso de perigo para predadores — um fenômeno conhecido como aposematismo.
"Essa estratégia de defesa permite que as espécies com coloração muito chamativa aumentem as chances de sobreviver, visto que a cor serve como um alerta aos predadores informando que esse organismo é tóxico ou impalatável"
— Dr. Flávio Albuquerque, professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA.
O aposematismo é um fenômeno comum dos insetos, e serve principalmente como um sinal de alerta para seus predadores. Além disso, o percevejo-picasso conta com uma arma invisível, mas altamente eficiente: o odor.
Os percevejos adultos, de maneira geral, possuem glândulas odoríferas localizadas na região ventral do tórax. Quando se sentem ameaçados, liberam uma mistura de substâncias químicas com odor desagradável, que servem de alerta e defesa contra predação.

Esse mecanismo funciona como uma barreira de defesa contra predadores, que rapidamente associam o aroma intenso a uma experiência alimentar indesejável. O cheiro, embora incômodo, não é prejudicial a outros animais ou humanos e também pode ser usado para comunicação com outras espécies.
“Para a maioria dos percevejos, a glândula odorífera é o mecanismo primário de defesa, o mesmo vale para Sphaerocoris annulus. Mesmo com esse mecanismo de defesa, esses percevejos podem ser ocasionalmente predados por algumas espécies de aves, lagartos, pequenos mamíferos, aranhas, dentre outros”, diz Flávio Albuquerque.
A família Scutelleridae é conhecida popularmente como percevejos-joia, e possuem muitas espécies com cores contrastantes, inclusive com iridescências. Além disso, muitas espécies apresentam policromatismo, onde uma única espécie pode apresentar vários padrões de coloração e cores em uma mesma população.
Juntamente com muitas outras espécies de Scutelleridae, o percevejo-picasso se alimenta do caule e da seiva de diversas famílias de plantas, sendo as mais citadas o cafeeiro e o algodoeiro, podendo causar dano à estas plantações. Eles também já foram reportados se alimentando de algumas espécies de Citrus e de Vernonia.
De acordo com Luís Ricardo, não se tem nenhum predador natural identificado, mas provavelmente o percevejo faça parte da cadeia alimentar como fonte primaria de alimento para animais vertebrados e até outros insetos.
Fonte: g1
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